Breve história do jornal “O Globo” e o Golpe de Estado de 1964

O fundador do jornal "O Globo", Irineu Marinho. Imagem: mensagensvirtuais.xpg.com.brO jornal “O Globo” foi fundado em 29 de julho de 1925 por Irineu Marinho. Ainda hoje, o periódico pertence à família Marinho, mas agora trata-se de apenas uma fatia do conglomerado administrado pelas Organizações Globo.

Entre os anos de 1930 e 1980, “O Globo” foi o campeão de circulação no Brasil. Durante a Segunda Guerra Mundial, o jornal criou um projeto que encaminhava informações a respeito do país para os soldados brasileiros que participavam no front da guerra. Esse empreendimento foi denominado Globo Expedicionário.

A versão eletrônica do jornal foi lançada em 1996.

Jornal "O Globo". Imagem: danschlund.com

Leia a seguir algumas das características desse que é um dos jornais de maior circulação no Brasil:

  • O jornal é conservador;
  • É distribuído diariamente e em 1972 tornou-se o primeiro periódico do Brasil a ser distribuído aos domingos;
  • Possui formato Standard;
  • “O Globo” pertence à família Marinho, mas é administrado por funcionários contratados;
  • Os principais concorrentes de “O Globo” atualmente são: revistas, outros jornais, TV, internet.


O editorial controverso do jornal “O Globo”

Em 1964, o jornal “O Globo” publicou um editorial que ainda hoje provoca polêmica. O título do artigo “Ressurge a democracia” é, na verdade, a comemoração do Golpe Militar de 1964.

Leia o editorial abaixo:

RESSURGE A DEMOCRACIA

Capa do jornal "O Globo" em 2 de abril de 1964. Imagem: Acertodecontas.blog.brVive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.

Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.

Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo.
Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez.

Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Executivo.

As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, “são instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.”

No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, consequentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube, vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei.

Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranquilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.

Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo.

A esses líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer ideia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.

Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor.”

Fonte: Acertodecontas.blog.br

É claro que são outros tempos e os historiadores sabem que épocas passadas não podem ser analisadas com os olhos de hoje, com os conceitos e preconceitos atuais. Contudo, a discussão sobre o tema permanece.

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